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sexta-feira, 23 de março de 2012

Regular glicemias em montanha: o que pode correr mal e como te podes preparar

O montanhismo, alpinismo ou mesmo caminhadas, são actividades que requerem um esforço físico intenso muito diferente daquele a que a maioria de nós está habituada. Implicam actividade aeróbica continuada durante períodos muito longos (às vezes todo o dia ou vários dias seguidos) e se tentarmos fazer o mesmo tipo de alimentação que num dia “normal”, entramos facilmente em défice e arriscamos ter hipoglicémias. Para além disso quebram-se as rotinas e podem surgir inúmeros percalços. Por exemplo, a ansiedade e a adrenalina alteram muitíssimo os valores das glicemias pelo que temos de aprender a ter em conta este factor.

A melhor maneira de ultrapassares estes problemas será ganhando prática e começando devagar. O simples facto de saberes que estes problemas podem surgir e estares preparado para lidar com eles ou para os evitar irá tornar a experiência mais fácil e gratificante. 

Por isso preparámos 1 lista de “truques” para te ajudar a planear estas actividades (e acho que a maioria se pode aplicar a qualquer pessoa com ou sem diabetes):

 1. Coloca o alarme do telemóvel para te lembrares de tomar a medicação à hora certa;

 2. Planeia bem a actividade: prevê o tempo que vais demorar em cada etapa; vê as previsões meteorológicas (que podem afectar muito o teu desempenho e o tempo necessário para terminares a actividade);

3. Leva medicação extra, baterias extra, roupa extra para o caso das condições mudarem; 

4. Quando planeias a actividade, pensando em quanto tempo necessitas para as diferentes etapas, planeia também as refeições/snacks. Assim não te esqueces de comer e medir a glicemia (o que acontece muito facilmente quando estamos demasiado excitados com todas as“novidades” ou quando estamos demasiado cansados). 
Por exemplo para um dia de escalada intenso eu faço este planeamento: 7h – peq.almoço (papas de aveia + maçã); 7h30 – caminhada; 9h – pequena pausa com snack (bolachas); equipar para escalar; 9h30 – início de via com duração estimada de 5 horas (2 snacks para ir comendo - barra de cereais +frutos secos); 14h – pico – pausa para “almoço”(sandes) e apreciar as vistas;14h30 – descida do pico e caminhada de regresso (chocolate e barra de cereais para o caminho).

Já se for a Catarina (tipo 1) fará qualquer coisa do tipo: 7h – peq.almoço (copo de leite e pão); 7h30 – caminhada; 9h – pausa e snack (snickers) mede a glicemia e terá que ter no mínimo 150 para poder escalar, caso contrário come mais snacks (se estiver alta come o snickers na mesma mas daria 2 unids de insulina); equipar para escalar; 9h30 – início de via com duração estimada de 5horas (snacks - chocolates, frutos secos, sumos para comer de hora a hora, fazendo a glicemia no mínimo de 2h em2h; procura manter-se entre os 150 e os 250); 14h – pico – glicémia e almoço (sandes, fruta, leite com chocolate/iogurte); 14h30 – descida do pico e caminhada de regresso (chocolate antes de partir, para evitar hipos);

5. Leva comida extra. Os gastos energéticos serão muito mais elevados doque num dia “normal”. Levar comida rica em açúcar (chocolates; barras energéticas; géis) é muito importante, mesmo que te tenham dito o contrário; os tipo 1 normalmente também reduzem as doses de insulina para compensar os gastos energéticos mais elevados;

6. Leva comida variada. Quando se tem de comer muitas vezes começa-se a enjoar das barras e snacks…

7. Conta com o efeito da adrenalina quando medes as glicemias (em breve vamos publicar 1 artigo a explicar este efeito…);

8. Mantém um bom nível de hidratação, para um dia como o que descrevemos deves beber no mínimo 2L de água durante a actividade e à noite beber também muitos líquidos;

9. Escolhe actividades/ percursos/ dificuldades adequados às tuas capacidades;

10. Assegura-te de que as pessoas que vão contigo sabem que tens diabetes, o que é que isso significa e como deverão reagir caso alguma coisa corra menos bem. É claro que as pessoas que te acompanham não devem de ter medo que alguma coisa terrível aconteça, mas devem estar cientes que pode ser preciso parar com mais frequência para te permitir medir glicemias ou comer. Também é útil que as pessoas que te acompanham saibam identificar os sinais de uma hipoglicémia (palidez, tremuras, confusão).

A experiência vai ajudando a que cada aventura corra melhor, a que cada vez te sintas mais preparado, e a que cada vez te divirtas mais…
Catarina num trekking no Círculo de Gredos
MJ num trekking na Patagónia

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