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sexta-feira, 12 de maio de 2017

Palestra "Escalar com diabetes: desafio ou terapia?"

Na próxima quarta feira, dia 17 de Maio, vou reponder a um desafio da Desnível e dar uma palestra com o título: Escalar com diabetes: desafio ou terapia?

Vou falar sobre  algumas das minhas aventuras de escalada e de tudo o que tenho aprendido com a diabetes tipo 1 sobre as complicadas relações entre desporto, metabolismo, alimentação, recuperação, etc.


A palestra será na sede da Desnível, em Cascais. Mais informações aqui ou aqui.


quarta-feira, 10 de maio de 2017

Dieta cetogénica parte 2

Como já referi, tenho usado a dieta cetogénica ou cetónica (keto diet/ ketogenic diet) para manter um melhor controlo gicémico. Na minha breve experiência com o Libre, as diferenças para uma dieta à base de hidratos de carbono são incríves.
Pequeno almoço cetogénico: yogurte grego com chia,
farinha de linhaça, frutos secos e frutos vermelhos

Mas o que é a dieta cetogénica? Numa alimentação dita “normal” grande parte da energia vem dos hidratos de carbono (HC). Na dieta cetogénica a ingestão de HC deve ser mínima e a maioria da energia (70-75%) vem das gorduras.

O nosso organismo pode usar HC ou gordura (cetonas) para produzir energia. Mas estamos adaptados a usar os HC que comemos como fonte primária de energia. Isto acontece porque não conseguimos armazenar HC; os que comemos em excesso são armazenados em forma de gordura. Como a gordura pode ser armazenada, quando temos as duas fontes disponíveis, usamos primariamente os HC.

Hoje em dia, as pessoas ingerem sempre HC e comem com muita frequência, e nunca precisam de queimar gorduras. Por isso não estamos adaptados a usar a gordura que temos armazenada. Quando já temos poucos HC disponíveis, sentimos fome e vamos novamente comer HC.

Quando limitamos a ingestão de HC, o nosso corpo adapta-se e começa a usar gordura como principal fonte de energia. Mas isto não acontece facilmente, temos de limitar de forma significativa a quantidade de HC que ingerimos. O nosso corpo leva alguns dias a adaptar-se, a criar as enzimas necessárias para usar essa fonte de energia.

Esta dieta surgiu inicialmente como terapeutica para a epilépsia e só recentemente começou a ser utilizada noutros contextos, como forma de perder peso, de controlar os níveis de colestrol, reduzir o risco de doença metabólica ou ajudar no controle da glicémia em diabéticos tipo 2 e tipo 1. (vejam por exemplo aqui, aqui, aqui e aqui).

A sua eficácia no tratamento de diabetes tipo 1 ainda não foi testada de forma científica, mas um artigo de revisão indica esta dieta como potencialmente muito positiva também para diabéticos tipo 1.

Os diabéticos que têm experimentado referem como principais vantagens um maior controlo glicémico, com muito menos hiperglicemias e hipoglicemias. Mas também cria algumas dificuldades já que é uma dieta bastante restritiva, com várias limitações. De seguida vou fazer um post sobre vantagens e desvantagens da dieta.


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Libre - primeiras impressões

Como disse no último post, tive a oportunidade de testar o Libre da Freestyle durante as duas últimas semanas. Adoreiiiiii! Mesmo! tinha algum medo que ele não resistisse ao meu ritmo acelerado, mas a verdade é que superou todas as espectativas e aguentou-se colado ao meu braço durante os seus 14 dias de vida :). E nem sequer tive de usar pensos ou adesivos.
Um dos muitos treinos com o libre


Fiquei com muita pena de ter de me separar dele... é uma pena ser tão caro e não ser comparticipado.

Entretanto, aprendi umas quantas coisas novas. Por exemplo, percebi que 30 minutos antes de treinos que puxem mais pelo sistema anaeróbico, tenho de dar uma dose de insulina, caso contrário tenho 1 pico de glicemia; depois do treino posso comer alguns hidratos e não dou insulina.

Também vi de forma muito clara o efeito da minha dieta KETO ou cetónica (ou cetogénica?).

Um dia com dieta Keto ou cetonica. O pico às 19h30 corresponde a um treino de musculação (devia ter dado 1 unidade de insulina para o evitar).

Um dia a comer hidratos com vários picos...

Dá para ver bem a diferença, não?

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Mulher Biónica ou o Medidor de Glicose Continuo

Finalmente tive a oportunidade de experimentar o Freestyle que é um sensor que se coloca no braço e permite a monitorização em contínuo da glicose.

A grande importância deste sistema é que permite sabermos o que se passa com a nossa glicémia 24h/dia. Pode dar-nos informação muitíssimo mais valiosa do que as tradicionais tiras de glicémia que apenas nos dão 1 pequena visão do que se passa num determinado momento.

Por isso, queria mesmo testar o freestyle. Perceber o efeito dos diferentes alimentos; a diferença que faz o timing em que se usa insulina, o que acontece durante um treino, etc.

E este fim de semana fui já testá-lo para a rocha e em condições bem extremas de calor e humidade.


Para já o meu balanço é muito, muito positivo. Já aprendi bastantes coisas só por poder ver em tempo real os gráficos de glicémia. Também passou o teste da escalada. Confesso que tinha algum medo de que a meio do dia ele se descolasse ou estragasse, mas aguentou-se!

Só tenho pena que apenas dure 14 dias. Não percebo como é que uma coisa destas que pode melhorar tanto a vida das pessoas com diabetes não é comparticipada. E provavelmente não ficaria mais caro ao SNS do que as tiras. E a longo prazo pode reduzir em muito as complicações da diabetes, poupando muito dinheiro ao SNS...

Quem puder, por favor participe na petição pública: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=diabetes-libre. Obrigada!

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Dieta cetogénica e diabetes - Parte 1

Como disse aqui, não andava satisfeita com os meus resultados a nível de controlo de glicémias. Em média, até andavam controladas, mas tinha hipos e hipers com alguma frequência. Não só quando “falhava” a contagem de hidratos porque comia qualquer coisa 1 bocado diferente, mas também noutras situações em que não parecia ter feito nada errado.

Entretanto, como gosto de ler sobre desporto e nutrição, deparei-me com a dieta cetogénica (ketogenic diet). Há quem a confunda com outras dietas baixas em hidratos de carbono como a dieta Atkins ou a dieta Paleo. Mas a dieta cetogénica é bastante diferente num aspeto muito importante: a sua ideia de base é alterar o metabolismo (e a principal fonte de energia usada pelo organismo), não é permitir ou proibir certos alimentos. Passo a explicar:

A dieta cetogénica pretende adaptar uma pessoa a usar gordura (cetonas) como principal fonte de energia em vez dos hidratos de carbono. Para se conseguir isto, temos de limitar muito a quantidade de hidratos de carbono que ingerimos.

Esta ideia – usar cetonas como principal “carburante” – fez-me sentido porque, como diabética tipo 1, eu não consigo metabolizar hidratos de carbono de forma perfeita. Como o meu organismo não produz insulina, eu tenho de calcular quanto é que ele precisa desta hormona a cada momento e dar-lha. E muitas vezes este cálculo corre mal porque é altamente complexo e envolve imensas variáveis (alimentação, desporto, stress, repouso, hormonas, saúde, etc.).

Por isso procurei mais informação sobre esta dieta e sobre o seu uso no controlo de diabetes. Aprendi imenso, ainda estou a aprender neste momento, e algo me diz que ainda tenho muito para aprender...

Aprendi que não é algo que se possa começar de ânimo leve. É preciso informarmo-nos muito bem e percebermos o que fazer e como. Ou corremos o risco de fazer tudo mal e pôr a nossa saúde em risco. E por isso, me tenho sentido algo relutante em escrever sobre isso. Porque não quero de maneira nenhuma incentivar outras pessoas a seguirem esta dieta de ânimo leve. É algo que poderá fazer sentido para outras pessoas como fez para mim, mas tem de haver muito empenho da sua parte. Por isso, vou fazer 1 série de posts sobre esta dieta, com informação detalhada de modo a que outras pessoas possam estar bem informadas caso queiram também experimentá-la.

Algumas ideias importantes que gostava de partilhar (e espero desenvolver nos próximos posts):


  1. O que é e o que não é a dieta cetogénica – as bases científicas do que esta dieta faz ao nosso metabolismo e organismo
  2. A dieta cetogénica para um diabético – não é só o que se come, a quantidade e a periodicidade da insulina também ajuda ou dificulta a produção de cetonas e a adaptação a esta dieta; os benefícios, para 1 diabético são também muito diferentes dos típicos “redução do peso e do apetite” ou “melhor desempenho atlético”. Para mim, o mais importante é mesmo o controlo muito maior da glicémia.
  3. Desporto à base de cetonas – subtilezas a aprimorar para não ficar sem gaz a meio da atividade (aqui ainda ando a fazer experiências...)
  4. Resultados até aqui (e, possivelmente, o que ainda terei de aprimorar no futuro)


terça-feira, 19 de julho de 2016

Tanto, mas tanto tempo sem aqui vir…

Tenho andado andado à procura da minha maneira de lidar com a diabetes, a aprender e a explorar novas maneiras de viver como diabética tipo 1. E o percurso nem sempre tem sido o mais fácil.

Depois da famosa lua de mel, tive vários períodos com descontrolos das glicémias e isso teve um grande impacto em mim. Sempre fui altamente dedicada (há quem diga controladora J) e sempre fiz tudo por ter boas glicémias: contar hidratos de carbono, medir a glicémia com muita regularidade, fazer imenso desporto, registar tudo... e mesmo assim havia números inexplicáveis, frustrantes, irritantes.

Mas quem vive com diabetes sabe que isto é mesmo assim: é impossível controlar tudo, e temos de aprender a lidar com estas frustrações. Vão sempre haver medições inexplicáveis. Comes o mesmo de sempre, dás a mesma insulina, dormes o mesmo, fazes as mesmas atividades, e, do nada, BUMMM, lá está uma hiper! Ou uma hipo!

Só que eu não lido nada bem com isso. E, saber que isso “é normal” não me deixa mais satisfeita ou sossegada. Percebi que para me sentir bem e conseguir continuar a evoluir no meu desporto – a escalada – teria de encontrar a minha maneira de lidar com a diabetes e por isso continuei sempre a fazer experiências. Com comidas, desporto, diferentes modos de dar insulina – mais ou menos lenta, a diferentes horas, partida em duas doses...

Enfim, tenho sido o meu próprio laboratório e tenho chegado a algumas conclusões do que melhor funciona comigo. 

Agora faço uma dieta “ketogenic” que acho que em português se chamará cetónica ou cetogénica, e tenho conseguido um controlo muito melhor das glicémias. Sobretudo, consigo passar dias e dias sem hipos nem hipers o que é muitíssimo diferente do que era a minha realidade há alguns meses atrás.

A ver se num futuro próximo partilho mais sobre as minhas experiências aqui. Não no intuito de dar uma “receita” do que se deve ou não deve fazer, mas para motivar quem também não está satisfeito com os seus resultados a nível de controlo de glicémias ou a nível desportivo a fazer experiências e encontrar maneiras de os melhorar. 

À procura de equilíbrio na escalada e na vida

quinta-feira, 20 de março de 2014

Kayak e diabetes

Nas duas últimas semanas fiz uma pausa dos treinos de escalada para dar algum descanso ao corpo e depois voltar a treinar com mais força. Mas como não sou muito de ficar parada fui experimentar outras coisas.

Fui fazer kayak no mar, entre o Cabo Espichel e Sesimbra. Ao princípio estava 1 bocado apreensiva por causa da logística. Dentro do barco temos de transportar as coisas dentro de bidões estanques e não é fácil por exemplo fazer 1 medição de glicémia ou comer. Para isso é necessário encontrar 1 praia e levar o kayak para terra… nada fácil se estivermos com hipo!

Assim sendo, pensei que o melhor seria reduzir as unidades de insulina para não arriscar ter hipoglicémia a meio. E ainda bem que o fiz, porque embora eu ache que estou em boa forma, o esforço físico foi bastante elevado e por isso os HC eram logo "comidos". Quando comecei, estava com 146; comi 1 sandes e dei apenas 1 unidade de insulina (em vez das 2 que daria normalmente). Na paragem que fizemos para almoçar, numa praia deserta, estava com 132 – perfeito! Voltei a comer e a dar metade da insulina que daria normalmente. Acabei com 79 e com tanta fome que fui jantar pizza J


E como não estou nada habituada a andar de kayak, passei depois 2 dias com os músculos doridos.